quarta-feira, novembro 24, 2010

Lembre-se de mim ..

Inconsciente, seus dedos se dobraram com força quando agarrou os lençóis, tentando encontrar o caminho através do labirinto de imagens que passava em sua mente.

Desde o momento em que acordou no hospital, ela sentira uma ânsia irresistível de correr. Mas por que? E para onde?

As mãos dele. Ela sempre amara as mãos dele.

Seu lábio inferior tremia enquanto ela resistia ao ímpeto de chorar .

A distancia emocional entre ela e ele era tão real quanto o ar que ela respirava, e isto a estava deixando morta de medo.

A simples idéia a deixava doente.

- Estou bem – piscando e contendo as lagrimas. Ela tinha de estar não havia outra escolha.

Sua expressão era suave quanto educada. Ela queria gritar.

As lagrimas dela chegaram bem próximo a superfície. Ele a chamara de amor. Isto queria dizer que ele estava começando a perdoar ou era apenas uma palavra que ele usara por habito?

Saber disso alimentava a raiva. A raiva nutria magoa.

Um dos seus sonhos já tinha se realizado e ela não tivera participação nele.

Por favor, meu Deus, permita que ele ainda me ame.

- Não sei. Alguma coisa simplesmente... Agora se foi. Não sei se foi uma lembrança ou minha imaginação.

Ela esperava em silencio por uma reposta tranqüilizadora vinda dele ou pelo menos um sinal de ternura.

Ela ficou tensa, esperando que ele se aproximasse, a tomasse nos braços e lhe dissesse o quanto ela significava pra ele ...

- Sabe de uma coisa, nunca pensei que você se desse por vencido facilmente.

Foram os dias mais longos de sua vida.

Uma parte dele tinha medo de abandonar a rede de segurança que tecera em volta do próprio coração.

- Covarde !

Sua expressão era séria. Sua linguagem corporal enviava um sinal de proibido, que qualquer idiota poderia ter percebido.

Ela parecia tão magoada, tão confusa.

- Porque devo compreender os seus sentimentos? Você não parece disposto a compreender os meus!

Não queria brigar, só queria respostas.

As lágrimas vieram a tona novamente.

- E ninguém lamenta isso mais do que eu.

Ela ficou pálida, a dor na voz dela era palpável.

Mas sua mente já estava indo além , para uma cena do pesadelo.

Ela cobriu o rosto com as mãos.

- Pelo amor de Deus, dê me uma chance.

Seus soluços abafados angustiaram, ela foi pra longe dele, enroscando-se como uma bola enquanto seus ombros tremiam de aflição.

Ficou deitada de costas com os olhos arregalados de pavor vertendo lágrimas.

Era impossível não perceber o terror nos olhos e na voz dela.

O coração dele estava martelando.

Isto estava errado- muito, muito errado-, e ela não sabia como consertar as coisas.

Sentia-se como se estivesse se desfazendo.

Uma ultima lagrima de raiva escorregou da sua pálpebra para o travesseiro. Mas ela não estava morta. Estava viva e estava de volta, e ele ia ter de aprender a viver com os burracos na vida dela ate que ela encontrasse uma maneira de preenche-los.

Mas o seu descanso era constantemente perturbado por sonhos estranhos.

A traição era a dor mais lancinante de todas.

Cerrou os dentes, forçando seu corpo machucado a relaxar ate que a dor começa se a diminuir. Finalmente, inspirou lenta e profundamente, e exalou de forma suave. O pior tinha passado.

Ela então corrigiu essa idéia. O pior não tinha passado. Estava apenas começando.

O pensamento a enlouquecia.

Seus olhos se fecharam, e finalmente sonhou com o dia que em ele entrara em sua vida...

Tudo nela doía, mas a dor mais profunda de todas estava em seu coração.

Havia um vazio dentro dele que o tempo não conseguia curar.

A inesperada compreensão dele foi sua ruína. As palavras dela foram uma confusão de lagrimas e frases desconexas.

(Ele olhou para aqueles olhos claros, banhados em lágrimas e quis beija-la. Por mais que quisesse ceder ao impulso, ele se levantou rapidamente. Ele se comportava como um idiota. Ela provavelmente daria um tapa nele.)

Acima do estrondo do meu coração?

Mais uma vez ela conseguiu se perder na confusão da heroína.

Por que ele não vivia isso antes? Por que, quando ela tinha quase ressuscitado do mundo dos mortos, ele só vira aspectos negativos? Devia ter se ajoelhado dando graças a Deus e não ter procurado mentiras.

O momento pelo qual ela rezara finalmente tinha chegado e ela estava com medo de se mexer temendo acordar e descobrir que estava sonhando.

De todas as emoções que estava sentindo agora, a mais forte era a de se sentir segura.

Por que isto não era o suficiente?

Leva tempo para superar o choque.

Era a única possibilidade que eu podia pensar para você ficar longe .

Mas obviamente não desisti de mim, nem de nós!

Sei que nunca abandonaria você de espontânea vontade ..

Seguia-se um silencio desconfortável.

O som da respiração dela doía em seu coração. Ele não sabia o quando aquele pequeno som era precioso até perde-lo.

O fato de ela se machucar antes de ter tempo de explicar podia ter sino nada mais que um infeliz golpe do destino.

Um novo dia estava prestes a nascer.

Precisava descansar, parecia que não conseguia se concentrar por mais de dez minutos.

(No seu mundo, apenas os fortes sobreviveriam, eram os objetivos finais. E para continuar a reinar o mundo que tinha criado, ele tinha de permanecer no controle. Mas o silencio do quarto era sedutor. Sem perceber, ele adormeceu, voltando a sonhos sobre quando seu passado era bom.)

A atenção dele fora sua salvação.

Acreditava que com ele do seu lado, conseguiria tudo o que queria.

Ao longo do tempo, se tornou seu confidente as vezes seu protetor.

Sua dependência dele e a adoração que tinha por ele a elevavam a algo importante – até mesmo mágico. Com ele em sua vida, ela não podia errar.

Quando a expressão dela mudou e ela começou a sorrir, ele se sentiu mais leve.

Ele a veria novamente. Ela nunca estava longe.

Ela prendeu a fronha nos dedos e fechou os olhos, lembrando-se de que eles acordavam fazendo sexo. Mas ela não ia ter pena de si mesma. Hoje não.

Nada jamais seria igual novamente. Não entre ela e ele, não o bastava quanto perdão houvesse entre eles. E certamente não pra ela. Alguém tinha roubado dois anos de sua vida.

- Espero que sim. Sinto-me como se existisse um burraco na minha cabeça. Fico tentando me encontrar nas imagens, por mais que me esforce, mais vagas elas se tornam.

O coração dela parou momentaneamente e sua voz sumiu.

Ele viu o estado de animo dela mudar da alegria para o desespero e odiou ser o causador de tudo.

Isso é o melhor que você pode fazer?

Logo depois, aquela união passou da doçura para a insanidade.

Recusa-la – ou a si mesmo – era impossível.

... até que a única coisa entre eles fosse a paixão.

Os pensamentos foram e vieram, passando pela mente dela como balas de revolver e rasgando a solidão que tinha sido sua única companheira.

Faz tanto tempo ... uma sensação boa.

Fazer sexo com ele tinha sido como fazer sexo com ele pela primeira vez.

Como sempre era impossível interromper suas emoções.

Ela engoliu em seco, com ódio do medo que havia em sua voz.

Ela cobriu o rosto com as mãos, mas antes que ele pudesse chegar até ela, ela levantou os olhos, e o fogo em seu olhar o paralisou.

Ela então se afastou e soube com tanta certeza quando sabia seu nome, que ia ser necessário mais do que “fazer amor” para se livrar DAQUILO.

O espelho estava embaçado, o banheiro quente e cheio de nevoa, e , mesmo assim, ela sentia frio. Sem ele, ela se sentia insignificante e vazia. Ele ainda estava lá, mais ela não mais em seu coração. Tinham feito aquilo, mais ainda tinham que se reconciliar. Ela podia ama-lo, mais ele não confiava nela. Este era um fato que ela tinha que aceitar. Uma parte dela quase compreendia, mas havia outra parte que sabia que se a situação fosse invertida, ela teria ficado de joelhos agradecendo a Deus por sua volta.

O medo veio junto com uma arfada arrebatadora.

Qualquer dia teremos as resposta, mas até la, temos um ao outro, esta bem?

NÃO TENHO VOCÊ – ela continuava a soluçar. – NÃO MAIS. ARRUINAMOS TUDO.

Era quase de manhã quando o sonho começou, mas o tempo não tinha significado para ela. Havia apenas um medo entorpecedor e a consciência de que ia morrer...

Ela parou, enjoada consigo mesma por permitir que o pânico assumisse o controle.

Não era assim que ela pretendia viver a vida. Até ele aparecer, sua vida tinha sido incerta. Queria seu mundo de volta, tal como era antes de ela desaparecer. Recusava-se a viver fugindo.

Eram os demônios desconhecidos que mais nos atormentavam.

Tinha coisas mais importantes para fazer do que se aborrecer por ser sufocada de amor.

Apenas ouvir sua voz tirou a angustia de suas entranhas.

O coração dela deu um pulo.

Só que dessa vez ela sabia que não era nela que ele não confiava.

Havia lagrimas em seus olhos quando ela olhou para cima, mas rapidamente piscou e as afastou. Isto não era hora para autopiedade.

SÓ NÃO FAÇA COM QUE EU ME ARREPENDA.

A conversa não fora diferente de outras que tiveram antes e, no entanto, havia algo nela que o incomodava.

Deveria ter sido uma sensação estranha, ate mesmo desconfortável, mas não foi. Em vez disso, equilibrava seus medos, fazendo com que ela se sentisse em pé de igualdade ...

Era como se ela estivesse admitindo para o mundo que sua vida estava em desordem e que ela estava disposta a recorrer a violência para conserta-lo.

Estar com você assim é algo que pensei que jamais chegaria a fazer novamente.

Agora, embora sua mente estivesse alerta novamente, seu corpo fazia objeções.

Fechou os olhos, desejando que sua mente ignorasse a dor e se lembrasse do mundo de onde ele tinha vindo.

Sua mente pulou de seu passado para o presente quando a imagem dele passou rapidamente.

E embora seu coração lhe dissesse que ela ainda estava viva, a lógica dizia o contrario.

O coração dele balançou. Para um homem do seu tamanho e com a sua auto-suficiência, era apavorante detinha tamanho poder sobre sua vida e sua felicidade.

Mas seu maior temor vinha não de encarar sua fraqueza nas em saber que não a protegera.

Isto não era muito bom para suas habilidades de honrar as promessas feitas.

Sentindo a batida do coração dela e a leveza de sua respiração junto a sua pele. Dentro de sua barriga, um fogo de raiva começou a arder.

Estava mentindo pra si mesma. Sim, ela queria proteção, mas havia uma parte dela que queria vingança.

Ela sempre poderia mudar de idéia.

Estava velha e desbotada, quase um trapo, mas era seu camisão favorito.

Cobrindo o que importava, mas deixando um pouco a sua imaginação.

Mas a aparência de menino malvado enganava. Ele era sexy demais, mas igualmente fiel e honesto.

Quando estava no corredor, ouvindo o silencio e esperando para ver se a voz reapareceria, algo em sua mente começou a vir a tona novamente.

- Não – tentando desesperadamente pegar de volta a lembrança em que estava.

Seus pensamentos pulavam de um cenário para outro, mas o que ela continuava pensando era pouco mais que suposição. Tudo de que se lembrava era apenas o suficiente para mante-la apavorada. Mas, como estava, seu medo começava a se transformar num frio sentimento de raiva.

Foi mais um sinal de como a vida tinha seguido adiante sem ela.

Podia estar ausente, mas a parte dela que mais importava – sua vontade de sobreviver – continuava forte.

Ao colocar a responsabilidade de sua própria liberdade e segurança em seus ombros, ela nunca se sentira livre novamente.

Só queria ouvir sua voz. Só isso.

Ela engasgou com um soluço, desejando que saísse como uma risada.

- a única coisa de que realmente tenho fome é de você.

Só que dessa vez o rilho em seus olhos não eram lágrimas.

Quero que descubra o que esta passando na cabeça dela.

Uma fome foi esquecida quando outra tomou o seu lugar.

Os dele, rijos e exigentes. Os dela, suaves e cedendo.

Todos os seus sentidos estavam concentrados no movimento preciso de seus corpos escorregando..

O tempo parou. Não havia nada que importasse a não ser o contato de carne na carne e o fim que estava se aproximando. Ele ficou cada vez mais próximo dela, ultrapassando fronteiras até chegar a um ponto de detonação.

E então aconteceu, atingindo-a com a força de um soco no estomago e estilhaçando qualquer inibição que ela um dia tivera.

Ela sempre dormia como uma criança abandonada, com um dos braços esticados e as vezes um dos pés pendurado do lado de fora da cama.

Era sua vida, sua razão de viver.

Algo dentro dele ficou horrorizado. Ele então repudiou o medo, sentindo raiva de si mesmo por ter tido o pensamento.

O sangue sumiu de seu rosto e, por um momento, ele se sentiu mal.

Houve um tempo em que ela não teria conseguido guardar um segredo desses.

A dor de sua acusação foi tão grande como se ele a tivesse atingido. Seus olhos cintilavam de lágrimas não derramadas.

Minha inocência se foi. Para sempre. Aconteceu algo comigo que não compreendo. Mas o que quer que tenha sido, de uma coisa eu tenho certeza: nunca mais serei a mesma.

Estou com medo todo o tempo em que estou acordada e até mesmo enquanto durmo.

Quando isto acontece, sinto-me como se fosse sufocar.

Suas palavras estavam tingidas de arrependimento.

- porque não sei o que é que vejo .

As vezes, acordo imaginando que o chão esta rolando sob meus pés. Fico sobressaltada com sons, e as vezes até mesmo um cheiro pode me abalar. – finalmente suas lagrimas se derramaram. – na maior parte do tempo, simplesmente acho que estou enlouquecendo.

Seu coração parou momentaneamente.

Esta resposta rápida lhe deu esperança de que haveria ...

Sua pele estava fulgurante e havia um sorriso em seu rosto.

Não parecia uma mulher prestes a enlouquecer ...

Havia algo no tom de voz dele que a ofendia. De repente ela sentiu como se estivesse sendo interrogada, quando era ela que tinha sido a vitima.

Ela permaneceu calada, embora seus olhos fossem acusadores.

O que estava pensando... o seu estado de espírito ...

Não estou louca, estou com medo.

( em mãos erradas, as armas podem causar danos. )

Estava tão perto da sua opinião original que ele teve dificuldade em olha-la nos olhos.

Sabe como faz com que me sinta?

Tudo o que ele pode fazer foi olhar pra ela.

( Até mesmo a mais inconseqüente das coisas pode ser a chave de algo importante. )

Momentos depois, ele se foi, deixando-a com a impressão de que seu mundo estava mais complicado do que jamais estivera.

Quando ele a reconheceu, seu centro de gravidade literalmente se deslocou.

Esta era sua chance de provar seu valor e ela não iria desperdiça-la.

Mas ele estava cansado. Cansado de pensar. Cansado de esperar que seu mundo cuidadosamente orquestrado começasse a se desfazer.

Bem no fundo das entranhas daquele lugar, o silencio era quase ensurdecedor. As batidas do seu coração e sua respiração serviam para lembra-lo de que apenas ele estava vivo.

Em algum lugar dentro dele, o tempo parou.

A necessidade de ouvir sua voz, e sentir a textura de sua pele era um desejo visceral.

- ei só estou fazendo o que posso para justificar minha existência.

Riu, e o som aqueceu seu coração. Alguns momentos depois, a tensão tinha passado.

Podia se lembrar dos galhos das arvores sem folhas movendo-se em direção ao céu com braços que pareciam esqueletos – e de estar com medo.

Foi o seu mundo que ficou maior. Só isso.

- Você é meu mundo.

Uma dor atingiu suas entranhas. Deus por favor, permita-me te-lo em meu mundo.

Mordeu o lábio, mas não foi o suficiente para deter um brotar repentino de lagrimas em seus olhos.

Ela olhou para ele, consolando-se no modo como seu coração sempre se acalmava quando ela olhava para o rosto dele..

Tenho certeza que estou vendo coisa de mais em algo tão inconseqüente. Alem do mais, foi há quanto tempo.

Por alguma razão, ele preenchia uma necessidade em sua vida.

Frequentemente seu coração se agitava e depois parava momentaneamente. E, embora soubesse que a arritmia se devia ao estresse, não havia jeito de aliviar a preocupação. Não quando cada novo dia trazia uma serie nova de problemas.

A agitação dela era obvia, mas ele ainda não estava entendo.

As lagrimas formavam listras em seu rosto. Seus olhos cintilavam de raiva.

- Faça “amor” comigo, faça com que todas essas coisas desapareçam.

Sua habilidade em atingir todos os seus pontos de pulsação era enlouquecedora.

Ela devia ter sentido seu peso, mais tudo o que sentiu foi o seu amor.

Sua respiração vinha em forma de arfadas curtas e espasmódicas, enquanto ela lutava para se concentrar, mas estava se desfazendo.

Basta seguir o sentimento, ele levara aonde você quer chegar.

Não era apenas o desejo de seu coração, mas tinha passado a ser sua sorte.

Ela lançou-lhe um olhar que dizia que ele podia falar tudo o que quisesse, mas ela não ia mudar de opinião.

E a cada dia que passava parecia como a calmaria antes da tempestade. Não obstante o quanto sues dias fossem comuns e suas noites tranqüilas, o estresse de não ter noticias estava enfraquecendo os dois.

Lutava com o impulso constante de se dissolver em lagrimas.

Todos estavam se mexendo, mas no mesmo lugar.

Odiava o estresse que ela estava passando e se preocupava constantemente por quanto tempo ela conseguiria suporta-lo.

O que não posso me dar ao luxo é de ficar sem você.

- Desculpe.

Parece que tudo o que quero fazer ultimamente é chorar.

Mas você sabe que vai custar caro!

- exatamente quanto?

- não se trata de quanto, mas do quê.

Um meio sorriso mudou a posição de seus lábios. Não muito, mas o suficiente para registrar satisfação completa.

Se recusou a permitir que a dor a detivesse. Hoje não. Hoje ela se sentia justificada de uma maneira que não conseguia explicar.

Ele era intocável, e ela sabia disso.

Manter-se distante dava um ar de importância e frequentemente significava diferença entre encrenca e permanecer vivo.

- não faz diferença quão próximo um homem chegue de morrer ou quantas vezes isso aconteça. O que conta é que, quando tudo estiver acabado, ele ainda esteja de pé.

Não tenho o habito de me entregar a prazeres que não me dão lucro.

A consciência pairava em algum lugar entre a realidade e o sonho.

E tinha sido bem quente e doce.

Ele tinha olhos selvagens de luxuria frustrada.

Sues olhos perderam a emoção, como se sua alma tivesse repentinamente sido sugada do corpo.

“O fato de que pode me subjulgar não muda o fato de que sinto desprezo em olhar no seu rosto. Nunca terá o controle do meu coração. Ele pertence a você. É ele que amo.”

Por varias semanas estivera em processo de negação..

Mas isto mudava tudo. As lagrimas não derramadas estavam presas no fundo da garganta, doloridas demais para se soltar.

- então como pode ter certeza de que não é uma manifestação de seus medos?

Ninguém estava disposto a acreditar nela.

Era apenas ilusão. Estava claro que ele, como todas as outras pessoas achava que ela estava louca.

Por que não pode admitir que talvez esteja errado desta vez?

Algumas mulheres teriam perdido suas próprias vidas em vez de se submeter ao toque de outro homem..

Agora que conseguira uma segunda chance de lidar com o problema, estava dando o maximo de si.

Seu coração começou a bater rápido quando seguiu o caminho com o olhar.

Seus pensamentos se dispersaram.

Quanto mais tempo olhava, mais percebia que não tinha percebido um fato obvio.

Precisava descansar, mas apenas por um minuto.

Um lento sorriso espalhou-se pelo rosto dela.

A amargura na voz dela doeu em seu coração.

O impulso de se esconder era muito forte, mas ela não podia deixar que o medo controlasse suas vidas. Além disso, ela não se sentia muito bem, e agüentar a presença de outra pessoa não seria muito agradável.

O fato de que ela se sentira tão ameaçada a ponto de comprar a maldita a incomodava.

Momentos depois, eles se separaram , embora de forma relutante.

Enquanto aguardava, seus pensamentos já estavam engrenados.

Quanto mais olhava, mais apavorada ficava.

Ela lançou-lhe um sorriso fraco e tremulo e depois fechou os olhos, desejando que aquela agitação em sua barriga passa se.

Quando ela viu o olhar no tosto dele, seu coração se agitou.

A lembrança passou gritando por sua cabeça, deixando a fraca e sem fala.

Outra sensação de mal-estar percorreu-lhe o corpo, mas não foi como antes. Passou, deixando apenas o desespero.

Ela tinha ficado calada até ouvir as ultimas palavras dele, quando seu coração quase parou.

Mas admitia que seu coração se sentia mais leve e seu propósito mais nítido.

- esta acontecendo cada vez mais a cada dia que passa.

Parecia assustada com suas próprias palavras e começou a franzir as sobrancelhas enquanto os imaginava em sua mente.

Ela engoliu o nó que se formava em sua garganta e respirou fundo.

O foco dela mudou quando seu olhar ficou perplexo.

Tudo parecia normal, e no entanto estava muito errado.

Não sei se me sinto mal, apenas estranha.

Já estava indo para aquele local onde o pensamento cessava e o limbo começava.

Quem poderia prever as forças da natureza?

Preferia que xingasse e gritasse do que falar com uma educação tão incomum..

A náusea é uma sensação horrível.

- o que for, ele sempre será seu.

- você não é uma preocupação pra ele, é o amor dele.

As rodas do seu futuro estavam em movimento. Não havia nada que ela pudesse fazer a não ser embarcar na viagem.

Outrora parecia tão perfeito, tão seguro. Agora tudo parecia ameaçador e feio.

Ele queria toma-la nos braços e afugentar com beijos todas as coisas ruins de sua vida, mas podia sentir sua necessidade de ter espaço. Tomou a decisão de segurar sua mão.

Ela tentou sorrir mais não conseguia. Em vez disso, saiu uma careta que ameaçava se transformar em algo pior. Algo que, uma vez iniciado, ela não seria capaz de controlar.

Por um segundo, viu medo e incerteza nos olhos dela, uma preocupação com o fato de que, mais uma vez, ela ia se tornar indesejada.

- você se lembra?

Os olhos dela se encheram de lagrimas.

- lembro.

a respiração dele era breve e cortada; suas emoções mal estavam sobre controle. Ele queria rir... e, meu deus , precisava chorar. Em vez disso, fez-lhe uma promessa que sabia que cumpriria.

Mas ela ia ter que contentar-se com mais outro choque de cafeína .

A visão dela ficou embaçada.

Foi ao mesmo tempo o momento mais maravilhoso e mais horripilante de sua vida.

Ele sorriu e balançou a cabeça como se não conseguisse acreditar na sua pergunta.

- eu prefiro você.

O nó no peito dela afroxou um pouquinho mais.

Você é sempre o prato especial da casa, e eu nunca me fartei. De você, não. De você, nunca.

E Deus sabe que não podemos suportar isso, não é?

A cada dia que passava, ele sentia o medo dela aumentar.

Ela recostou-se novamente no travesseiro, frustrada.

Ela precisava acreditar que ele estava dizendo a verdade ou enlouqueceria.

Tudo parecia normal, embora ele fosse o primeiro a admitir que as aparências podiam enganar.

- estou fazendo meus planos.

Sua barriga revirou ao pensar no que estava para fazer.

Quando a tivesse novamente, ele encontraria uma maneira de fazer com que ela aceitasse seu modo de pensar. Não aceitaria que ela o odiasse como ela havia alegado.

A surpresa seria uma carta na manga.

Ele então se livrou do pensamento.

O que vinha dela só podia ser puro, não importando as circunstancias da concepção.

Respirou fundo e então a realidade veio á tona enquanto seu coração parou..

Seu coração começou a acelerar e suas mãos a suar.

Ele lutava pra se lembrar, porque é que estava sentindo dor.

CORRER SEM OLHAR PRA TRÁS!

Isso era algo que ele não tinha esperado.

Por falta de uma palavra melhor, tudo em que ele pode pensar era que ela estava cm uma expressão mortal.

Um ataque repentino de nervosismo abalou momentaneamente sua concentração.

- eu confio em você.

Roubou minha inocência, e dois anos da minha vida.

Não havia medo no rosto dela, apenas fúria.

- eu jamais machucaria você!

Estava dividido entre querer endireitar as coisas e a necessidade de escapar enquanto ainda era tempo.

Sua vida piscava diante dos seus olhos.

De nunca se sentir como parte de um grupo, nunca conhecer a sensação de ser amada – sempre lutando para sobreviver.

Ele estremeceu, amaldiçoando se pela fraqueza que amar alguém podia causar.

Está terminado. Desista. Desista de mim.

Ele balançou a cabeça, como um animal ferido tentando permanecer sobre as quatro patas.

- mas você não entende, você é meu amor ... sem você, tudo esta terminado de qualquer maneira.

Então que assim seja !

Sua expressão estava cheia de determinação.

Ele tinha tudo que sempre quis na vida.

Respeito. Dinheiro. Poder. E então respirou ... TUDO, exceto ela.

Tentou sentir raiva. Não conseguiu.

- eu sempre seria sua amiga.

- tudo que você precisava fazer, era simplesmente dizer olá.

Pela primeira vez na vida, ele sentiu necessidade de chorar.

Talvez seja tarde de mais...

Seu coração estava disparado. Sua cabeça vislumbrava cenários que ele não queria aceitar.

Se sentiu entorpecido antes de sentir dor.

Olhou pra baixo sem acreditar. Sem perceber o que suas ações acarretariam.

.. apenas alguns segundos de consciência..

E então tudo se transformou em câmera lenta.

As imagens passaram por sua mente, ouvia seu coração bater lentamente.

Depois ela começou a tremer.

Ficou olhando pra ele , sem acreditar.

Quando os braços dele a envolveram, ela começou a ficar sem energia.

Tudo tinha sido pra ela , um tente de resistência.

A medida que os dias passavam, o estado de espírito dela não melhorava, ela passava cada dia como um robô, dando saltos ao ouvir barulhos, acordando no meio da noite gritando o nome dele.

- meu amor, existem muitas coisas que você não sabe sobre mim, dentre elas as quais estão os talentos ocultos que possuo.

Prendeu a respiração, observando sua expressão mudar da curiosidade para o reconhecimento e depois para a compreensão. Quando ela ergueu os olhos, haviam lágrimas ..

Ela inclinou-se a frente, capturando o sorriso dele com os lábios e sentindo um puro prazer..

Este é um tempo de recomeço pra nós, e espero que seja a partir do “zero”.

O que diz?

- que o amo?

- está bom para um inicio de conversa.

Se lembrara de mim. Só de mim.

A incerteza no rosto dele quase partiu o coração dela. Ela balançou a cabeça preocupada.

Ele sorriu mais ainda quando começou a se pavonear para a frente e para trás, mostrando-lhe como a tatuagem se movia junto com o ao corpo ...

Mas não precisou esperar para saber como seria sua própria historia ..




sábado, novembro 20, 2010

Provo que a mais alta expressão de dor... Consiste essencialmente na alegria ... - Augusto dos Anjos

Pensou no que ele estava se transformando pra ela, no que ele parecia querer que ela soubesse, supôs que ele queria ensinar-lhe a viver sem dor apenas.

"... do útero, do coração contraído veio o tremor gigantesco duma forte dor abalada, do corpo todo o abalo ..."

- pois agora mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado; ela saíra agora da varocidade de viver. Lembrou-se de escrever a ele que passara,

Um corpo é menor que o pensamento..

Quero que isto que é intolerável continue porque quero a eternidade.

Há uma maçonaria do silêncio que consiste em não falar dele e de adorá-lo sem palavras.

Agora pronta, vestida, o mais bonita quanto poderia chegar a sê-lo, vinha novamente a dúvida de ir ou não ao encontro ...

A condição humana dele era maior que a dela que, no entanto, tinha um cotidiano rico. Mas seu descompasso com o mundo chegava a ser cômico de tão grande: não conseguira acertar o passo com as coisas ao seu redor.

Quero esta espera continua como o canto avermelhado das cigarras, pois tudo isso é a morte parada ...

É o perdão súbito, nós que nos alimentávamos com gosto secreto da punição. Agora é a indiferença de um perdão.

Sem a dor , ficara sem nada, perdida no seu próprio mundo e no alheio sem forma de contato.

Enquanto ele próprio dizia de si mesmo que estava em plena aprendizagem, mas tão além dela que ela se transformava em ínfimo corpo vazio e doloroso, apenas isso. E ela ansiava por ele porque exatamente ele parecia ser o limite entre o passado e o que viesse –

Tão difícil de dar e receber que ele talvez se recusasse.

Era um certo medo da própria capacidade , pequena ou grande, talvez por não conhecer seus limites.

A dor fora anquilosada e paralisada dentro de seu peito, como se ela não quisesse mais usa-la como forma de viver.

Nada viera a não ser a parada da vida dos sentimentos.

Não eu não quero ser eu somente, por ter um eu próprio, quero é ligação extrema entre mim e a terra friável e perfumada.

Sua alma inconsumível. Pois ela era o mundo. E no entanto vivia o pouco. Isso constituía uma de suas fontes de humildade e forçada aceitação, e também a enfraquecia diante de qualquer possibilidade de agir.

É claro que tudo isso não era pensado: era vivido, cm uma ou outra rápida passagem de luz de holofote na noite iluminando o céu por um átimo de segundo de pensamento a escuridão.

Ela seria uma mancha difusa de instintos, doçuras e ferocidades, uma trêmula irradiação de paz e luta, como era humanamente, mas seria de forma permanente: porque se o seu mundo não fosse humano ela seria um bicho. Por um instante então desprezava o próprio humano e experimentava a silenciosa alma da vida animal.

Era uma benção estranha como a de ter loura sem ser doida.

Sabia que aquilo era impossível e todas as vezes que pensara que se compreendera era por ter compreendido errado.

Dissera pouco mais ela, pela atenção que lhe dera, parecia ter ouvido além do que ela contara.

E então eu não quis mais nada disso. E parei com a possibilidade de dor, o que nunca se faz impunemente. Apenas parou e nada encontrou além disso. Eu não digo que eu tenha muito, mas tenho ainda a procura intensa e uma esperança violenta.

Nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira.

Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de outros contraditórios.

Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença , sabendo que nossa indiferença é a angustia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa.

Temos sorrido em publico do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos.

E reunia toda sua força para parar a dor. Que dor era? A de existir? A de pertencer a alguma desconhecida? A de ter nascido?

E depois, estancada a dor como se não tivesse sequer havido, exausta, após ter nadado quilômetros no universo vazio, ficara ofegante, jogava-se nas areias brilhantes de um planeta, imóvel, de bruços.

Sou um monte intransponível no meu próprio caminho. Mas as vezes por uma palavra tua ou por uma palavra lida, de repente tudo se esclarece.

Juro que não sei, as vezes me parece que estou perdendo tempo, as vezes me parece que pelo contrario , não há modo mais perfeito, embora inquieto, de usar o tempo: o de te esperar.

Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras. Sou irritável e firo facilmente. Também sou muito calma e perdôo logo. Não esqueço nunca.

Sou paciente mas profundamente colérica, como a maioria.

Gosto muito das pessoas por egoísmo.

Nunca esqueço uma ofensa, o que é uma verdade, mas como pode ser verdade, se as ofensas saem de minha cabeça como se nunca tivessem entrado?

Apesar de meu ar duro, sou cheia de muito amor e é isso o que certamente me dá uma grandeza, essa grandeza que você percebe e de que tem medo.

Meu amor pelo mundo é assim: eu perdôo as pessoas terem um nariz mal feito ou terem lábios finos demais e serem feias -

O melhor modo de despistar é dizer a verdade, embora eu não tenha tentado nenhuma vez despistar você.

Como morrer, antes de dar-se, mesmo em silêncio?

Mas sentia uma pressa por dentro, sentia pressa: havia alguma coisa que ele precisava saber e experimentar, e não estava sabendo e nunca soubera.

E o desespero a tomava. Sabia que ainda não estava pronta para dar-se a ele ...

O que era um Nada era exatamente Tudo.

Porque a angustia era a incapacidade de sentir a dor.

Angustia também era o medo de sentir enfim a dor.

Como é que explicaria a ele, mesmo que quisesse, e não queria, o longo caminho até chegar ali, àquele momento possível. E ele ainda achava pouco. Como explicar que, do longe de onde de dentro de si ela vinha, já era uma vitória estar semivivendo. Porque enfim, uma vez quebrando o susto da nudez diante dele, ela estava respirando de leve, já semivivendo.

Não tenha medo do meu silêncio... Sou uma louca mais guiada dentro de mim por uma espécie de grande sábio ...

Pois ela estava como na sua primeira infância e sem medo de que a angústia sobreviesse: estava em encantamento pelas cores orientais do Sol que desenhava figuras góticas nas sombras.

Mas sabia que era ambiciosa: desprezaria o sucesso fácil e quereria, mesmo com medo, subir cada vez mais alto ou descer cada vez mais baixo.

Vou bem tranqüila. E com cuidado. É melhor não falar, não me dizer. Há um grande silêncio dentro de mim. E esse silêncio tem sido a fonte de minhas palavras. E do silêncio tem vindo o que é mais precioso que tudo: o próprio silêncio.

E não havia perigo de gastar este sentimento com medo de perde-lo, porque ser era infinito, de um infinito de ondas do mar.

Pela primeira vez na vida, sentiu uma força que mais parecia uma ameaça contra o que ela fora até então.

- Um dia será o mundo com sua impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa mas seremos um só.

Então isso era a felicidade. De inicio se sentiu vazia. Depois seus olhos ficaram úmidos: era a felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço da paz estranha e aguda, que já esta começando a me doer como uma angustia, como um grande silencio de espaços? A quem dou minha felicidade, que já começando a me rasgar um pouco e me assusta. Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não tem coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem mediocridade. Despediu-se, por que ele era o perigo.

Estava caindo numa tristeza sem dor, não era mau. Fazia parte, com certeza. No dia seguinte provavelmente teria alguma alegria, também sem grandes êxtases, só um pouco de alegria, e isto também não era mau.

Mas era tarde: ela já ansiava por novos êxtases de alegria ou de dor. Tinha era que ter tudo o que o mais humano dos humanos tinha. Mesmo que fosse a dor, ela a suportaria, sem medo novamente de querer morrer. Suportaria tudo. Contanto que lhe dessem tudo.

E tinha agora a responsabilidade de ser ela mesma. Nesse mundo de escolhas, ela parecia ter escolhido.

Ainda era noite, devia ter dormido por alguns minutos apenas. Não se sentia porem, cansada: estava alerta.

Tão feérico como imaginava que deveriam ser os prazeres. Mesmo que não os achasse agora, ela sabia, sua exigência se havia tornado infatigável. Ia perder ou ganhar? Mas continuaria seu corpo-a-corpo com a vida. Nem seria com a sua própria vida, mas com a vida. Alguma coisa se desencadeara nela, enfim.

Mas uma alegria fatal – a alegria é uma fatalidade – já a tomou, embora nem lhe ocorra sorrir. Pelo contrario esta muito séria.

Na sua humildade esquecia que ela mesma era fonte de vida e de criação. Então saía pouco, não aceitava convites. Não era mulher de perceber sempre quando um homem estava interessado nela a menos que ele o dissesse.

Então sem entender o que fazia, só o entendeu depois –
Pondo sobre si mesma alguém outro: esse alguém era fantasticamente desinibido, era vaidoso, tinha orgulho de si mesmo. Esse alguém era exatamente o que ela não era.

Pareceu-lhe que as torturas de uma pessoa tímida jamais tinham sido completamente descritas –

Preferiria sofrer de amor do que sentir-se indiferente.

Quem sabe, ela achava que a mascara era um da-se tão importante quanto o dar-se pela dor do rosto.

Era a liberdade horrível de não ser. E a hora da escolha.

Era inútil esconder. A verdade é que não sabia viver.

Teus olhos, são confusos mas tua boca tem a paixão que existe em você e de que você tem medo. Teu rosto, tem um mistério de esfinge: decifra-me ou te devoro.

Viver é tão fora do comum que eu só vivo porque nasci.

Comigo você falara sua alma toda, mesmo em silêncio. E nós não nos esgotaremos porque a alma é infinita. E além disso temos dois corpos que nos será um prazer alegre, mudo, profundo.

Faço poesia não porque seja poeta mas para exercitar minha alma, é o exercício mais profundo do homem.

Nós, os que escrevemos, temos na palavra humana, escrita ou falada, grande mistério que não quero desvendar com o meu raciocínio que é frio.

Quem escreve ou pinta ou ensina ou dança ou faz cálculos em termos de matemática, faz milagre todos os dias. É uma grande aventura e exige muita coragem e devoção e muita humildade. Meu forte não é a humildade em viver. Mas ao escrever fatalmente humilde… embora com limites. Pois do dia em que eu perder dentro de mim a minha própria importância – tudo estará perdido.

Família? Não me dou com eles. Tentaram me marcar ma sempre foram gente de segundo plano na minha vida.

Quando você aprender vai ver o tempo que perdeu. A tragédia de viver existe sim e nós a sentimos, mas isso não impede que tenhamos uma profunda aproximação da alegria com essa mesma vida.

Mas já existem demais os que estão cansados. Minha alegria é áspera e eficaz, e não se compraz em si mesma, é revolucionaria. Todas as pessoas poderiam ter essa alegria mas estão ocupadas demais em ser cordeiros de deuses.

O olhar dela tornara-se sonhador, abstrato, um pouco vazio.

Você está se acordando pela curiosidade, aquela que empurra pelos caminhos da vida real.

Lembre-se: quem é capaz de sofrer intensamente, também pode ser capaz de intensa alegria.

As pequenas violências nos salvam das grandes.

Preferia a luz fresca e tímida que precedia o dia ou a quase penumbra luminosa que precede a noite.

Pensou ela, sentir a grande ânsia de viver mais profundamente que esse cheiro provocava nela.

Não havia aprendizagem de coisa nova: era só a redescoberta.

Ele olhou-a com admiração: ela estava extravagante e bela.

Quando ela pensou que, além do frio, chovia como que no mundo inteiro, não pode acreditar que tanto de bom lhe fosse dado. Era o acordo da terra com aquilo que ela nunca soubera que precisava com tanta fome de alma.

Sabia que podia toma-la, que ele não se recusaria; mais não a tomava, pois queria que as coisas acontecessem não que as provocasse.

Umas duas ou três vezes e depois não queria voltar. Porque nela a busca do prazer, nas vezes que tentara, lhe tinha sido água ruim: colocava a boca e sentia a bica enferrujada, era a água seca. Não havia ela pensado, antes o sofrimento legitimo que o prazer forçado.

Não, ela não se referia ao fogo, referia-se ao que sentia. O que sentia nunca durava, acabava e podia nunca mais voltar. Encarniçou-se então sobre o momento, comia-lhe o fogo inteiro, e o fogo externo ardia doce, ardia, flamejava.

Porque no impossível é que esta a realidade.

E a idéia de tomar iniciativa, a resposta lhe vinha áspera: jamais.

Porque ele a abandonara? Seria para sempre? Ou quebrava o voto de castidade que ele próprio se impingira para esperar por ela?

Como se cortasse de uma vez para outra o vinculo? E ambos ficassem em liberdade, um do outro? Ela sabia que ela própria é quem cortava vínculos a vida inteira , e talvez alguma coisa nela sugerisse aos outros a palavra “adeus”. “abandonar-me logo quando eu estava ...” não concluía o pensamento numa frase porque não sabia ao certo em que “já estava”.

E não conseguia readormecer porque o desejo de ser possuída por ele vinha forte demais.

Sabia que se de algum modo lhe manifestasse que já o desejava forte demais, ele reconheceria que era simples desejo e recusaria.

Pois com os amantes que tivera ela como que apenas emprestava o seu corpo a si própria para o prazer, era só isso, e mais nada.

Conheci uma mulher simples que não se fazia perguntas sobre Deus: ela amava além da pergunta sobre Deus. Então Deus existia.

Foi então que entrou numa fase – seria fase ou para sempre? – em que regrediu como se tivesse perdido tudo o que ganhara?

Aprendi a viver com o que não se entende,

E o perfume parecia mata-la lentamente. Lutava contra pois sentia que o perfume era mais forte do que ela, e que poderia de algum modo morrer dele. Agora é que ela novata tudo isso. Era uma iniciada no mundo.

Em outras, terá que saber e sentir a dois. Mas eu espero. Espero que você tenha a coragem de ser autodidata apesar dos perigos, e espero também que você queira ser dois em um. Sua boca, como eu já lhe disse, é de paixão. É através da boca que você passará a comer o mundo, e então a escuridão de teus olhos não vai se aclarar mais vai iridescer.

Ocorreu-lhe então que ele tivesse desaparecido para que ela aprendesse sozinha. Mas o que acontecera é que ela ainda estava tão frágil no mundo que quase desmoronou e quase voltou a estaca zero. E ver que podia perder tudo o que já ganhara, encheu-a de uma ira de possesso contra o Deus.

E estava conhecendo o inferno da paixão pelo mundo.

O que era aquilo tão violento que a fazia pedir clemência a si mesma? Era a vontade de destruir, como se para destruir tivesse nascido. E o momento de destruição viria ou não, a escolha dependia dela poder ou não se ouvir a si própria.

Alivia minha alma, faze com que eu sinta que tua mão está dada a minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar não é morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte e sim a vida, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que eu receba o mundo sem medo, pois para esse mundo incompreensível nós fomos criados e nós mesmos também incompreensíveis, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade e paciência comigo mesma, amém.

Que é que eu faço, é de noite e eu estou viva. Estar viva está me matando aos poucos, e eu estou toda alerta no escuro.

Sem se olhar ao espelho, era um sorriso que tinha a idiotice dos anjos.

E tudo era muito para um coração de repente enfraquecido que só suportava o menos, só podia querer o pouco aos poucos.

E desejava a vida mais cheia de um fruto enorme.

Pois quando se demorava demais nela e procurava se apoderar de sua levíssima vastidão, lagrimas de cansaço lhe vinham aos olhos: era fraca diante da beleza do que existia e do que ia existir.

Mais ia esperar. Ia esperar comendo com delicadeza e recato e avidez controlada cada mínima migalha de tudo, queria tudo pois nada era bom demais para a sua morte que era a sua vida tão eterna que hoje mesmo ela já existia e já era.

Na busca viajava dentro de si bem longe. E então veio finalmente o dia em que ela soube que não era mais solitária, tinha encontrado o seu destino de mulher.

Pois ela, apesar do desejo, não queria apressar nada e também se mantinha casta.

Baixa e longínqua
É a voz que ouço. De onde vem,
Fraca e vaga?
Aprisiona-me nas palavras,
Custa-me entender
As coisas pelas quais perguntava
Não sei e não sei
Como responder-lhe-ei.

Só o vento sabe,
Só o sol sábio conhece.
Pássaros pensativos,
O amor é belo,
Me insinuam algo.
E o mais
Só o vento sabe,
Só o sol conhece.

Por que, ao longe, erguem-se as rochas,
Por que vem o amor?
As pessoas são indiferentes,
Por que tudo lhes sai bem?
Por que eu não posso mudar o mundo?
Por que não sei beijar?
Não sei e não sei
Talvez um dia eu compreenda.

Só o vento sabe,
Só o sol sábio conhece.
Pássaros pensativos,
O amor é belo,
Me insinuam algo.
E o mais
Só o vento sabe,
Só o sol conhece
Nunca, até então, tivera a sensação de calma absoluta. Estava sentindo agora uma clareza tão grande que a anulava como pessoa atual e comum: era uma lucidez vazia, assim como um cálculo matemático perfeito do qual não se precisasse. Estava vendo claramente o vazio.

De algum modo já aprendera que cada dia nunca era comum, era sempre extraordinário. E que a ela cabia sofrer o dia ou ter prazer nele. Ela queria o prazer extraordinário que era tão simples de encontrar nas coisas comuns: não era necessário que a coisa fosse extraordinária para nela se sentisse o extraordinário.

Durante dias parecia meditar profundamente mas não meditava em nada: só sentia o leve prazer, inclusive físico, de bem-estar.

Sentia as vezes uma saudade tão grande que era como uma fome.

Feliz em poder sentir.

Mas o prazer nascendo doía tanto no peito que as vezes preferia sentir a habituada dor ao insólito prazer. A alegria verdadeira não tinha explicação possível, não tinha sequer a possibilidade de ser compreendida –

Mas ela sabia que ainda não estava a altura de usufruir de um homem.

Pois o prazer não era de se brincar com ele. O prazer era nós.

E nela o prazer, por falta de pratica, estava no limitar da angustia. Seu peito se contraiu, a força desmoronou: era a angustia sim. E, se ela não fizesse nada contra, sentia que seria a pior de suas angustias.

Não se se você pretende ainda me ver um dia ...

Talvez essa fosse uma das experiências humanas e animais mais importantes: a de pedir mudamente socorro e mudamente este socorro ser dado.

Se sentia como se fosse um tigre perigoso com uma flecha cravada na carne, e que estivesse rondando devagar as pessoas medrosas para descobrir quem lhe tiraria a dor. E então um homem, tivesse sentido que um tigre ferido não é perigoso. E aproximando-se da fera, sem medo de toca-la, tivesse arrancado com cuidado a flecha fincada.

Como não era a palavra ou o grunhido o que tinha importância, afastara-se silenciosamente.

Ela estava procurando sair da dor, como se procurasse sair de uma realidade outra que durara sua vida até então.

Bem sabia, experimentaria enfim em pleno a dor do mundo. E a sua própria dor de criatura mortal, a dor que aprendera a não sentir. Mas também seria por vezes tomada de um êxtase de prazer puro e legitimo que ela mal podia adivinhar.

Ser-se o que se á, era grande demais e incontrolável. Tinha uma espécie de receio de ir longe demais. Sempre se retinha um pouco como se retivesse as rédeas de um cavalo que poderia galopar e leva-la. Ela se guardava. Porque e para que? Pra o que estava ela se poupando? Era um certo medo de sua capacidade, pequena ou grande. Talvez se contivesse por medo de não saber os limites de uma pessoa.

Só sabia que já começara uma coisa nova e nunca mais poderia voltar a sua dimensão antiga.

E sabia que devia abandonar para sempre a estrada principal. E entrar pelo seu verdadeiro caminho que eram os atalhos estreitos.

Falhara. Seu coração bateu mais forte ainda porque sentiu que não ia desistir.

Mais há muitas coisas, que você ainda desconhece. E há um ponto em que o desespero é uma luz e um amor.

Ter uma vida só era tão pouco!

O amor por ele veio como uma onde que ela tivesse podido controlar até então. Mais de repente ela não queria mais controlar.

E quando notou que aceitava em pleno o amor, sua alegria foi tão grande que o coração batia por todo o corpo, parecia-lhe que mil corações batiam-lhe nas profundezas de sua pessoa.

Como prolongar o nascimento pela vida inteira? Foi depressa ao espelho para saber quem era, e para saber se podia ser amada. Mas assustou-se ao se ver.

Eu existo, estou vendo, mais quem sou eu? E ela teve medo.

Um pouco de mim eu sei: sou aquela que tem a própria vida e também a tua, eu bebo a tua vida. Mais isso não responde quem sou eu!

Não se faça de tão forte perguntando a pior pergunta.

Fazer uma lista de coisas que podia fazer!

Sentou-se diante do papel vazio e escreveu: comer – olhas as frutas - ver cara de gente – ter amor – ter ódio – ter o que não se sabe e sentir um sofrimento intolerável - esperar o amado com impaciência – entrar no mar – fazer café – irritação – ter razão – ouvir musica – mãos dadas – não ter razão e sucumbir ao outro que reivindica – ser perdoada da vaidade de viver – ser mulher – dignificar-se – rir do absurdo de minha condição – não ter escolha - ter escolha – adormecer – mas de amor de corpo não falarei.

Ma sabia o numero indefinido de coisas que podia fazer.

Não se tratava de uma inspiração, que era uma graça especial que tantas vezes acontecia aos que lidavam com arte.

Era uma lucidez de quem não adivinha mais: sem esforço, sabe. Apenas isto: sabe. Que não lhe perguntassem o que, pois só poderia responder do mesmo modo infantil. Sem esforço, sabe-se.

Esta energia é a maior verdade do mundo e é impalpável.

Mas era inútil desejar: só vinha espontaneamente.

E habituar-se a felicidade, seria um perigo social. Ficaríamos mais egoístas, porque as pessoas felizes eram, menos sensíveis a dor humana, não sentiríamos a necessidade de procurar ajudar os que precisam – tudo por termos na graça a compreensão e o resumo da vida.

Seria como cair num vicio, iria atraí-la como um vicio, ela se tornaria contemplativa como os tomadores de ópio.

E isto representaria uma fuga imperdoável ao destino humano, que era feito de luta e sofrimento e perplexidade e alegrias.

Havia experimentado alguma coisa que parecia redimir a condição humana, embora ao mesmo tempo ficassem acentuados os estreitos limites dessa condição. E exatamente porque depois da graça a condição humana se revela na sua pobreza implorante, aprendia-se a amar mais, e esperar mais. Passava-se a ter uma espécie de confiança no sofrimento e em seus caminhos tantas vezes intoleráveis .

Por que eu voluntariamente me afastara das pessoas? Agora posso falar. É porque não quero ser platônica em relação a mim mesma. Sou profundamente derrotada pelo mundo em que vivo. Separei-me só por uns tempos por causa da minha derrota e por sentir que os outros também eram derrotados. Então fechei-me numa individualização que se eu não tomasse cuidado poderia se transformar em solidão histérica ou contemplativa.

Você esta pronta, agora quero o que você é, e você quer o que eu sou. E toda essa troca será feita na cama.

Queria que você, sem uma palavra, apenas viesse,.

Era uma liberdade que ele lhe oferecia. No entanto ela preferiria que ele mandasse nela, que marcasse dia e hora. Mas sentiu que era inútil tentar faze-lo mudar de idéia.

Achava agora que a capacidade de sofrer era a medida de grandeza de uma pessoa e salvava a vida interior dessa pessoa.

Além do que estava plena e não precisava de ninguém, bastava-lhe saber que ele a amava e que ela o amava. Fora o fato de estar coberta de amor novo pelas coisas e pelas pessoas.

Então ela viu uma rua que nunca mais iria esquecer. Nem sequer pretendia descreve-la: aquela rua era sua. Só podia dizer que estava vazia e eram dez horas da noite.
Ver e esquecer, para não ser fulminada pelo intolerável saber.

O que lhe veio foi a levemente assustadora certeza de que os nossos sentimentos e pensamentos são tão sobrenaturais como uma historia passada depois da morte. E ela não compreendeu o que queria dizer com isso. Ela o deixou ficar, ao pensamento, porque sabia que ele encobria outro, mais profundo e mais compreensível.

Teria de agora em diante, que fazer o seu motivo e tema.

Atenta a fome de existir, e atenta a própria atenção, parecia estar comendo delicadamente viva o que era muito seu. A fome de viver, meu Deus. Até que ponto ela ia na miséria da necessidade: trocaria uma eternidade de depois da morte pela eternidade enquanto estava viva.

E não chovia, não chovia. Mas a hora mais procurada precedeu aquela coisa que ela não queria sequer tentar definir. Esta coisa uma luz dentro dela, e a essa chamariam de alegria, alegria mansa.

Ficou um pouco desnorteada como se um coração lhe tivesse sido tirado, e em lugar dele estivesse agora a súbita ausência, uma ausência quase palpável, do que era antes um órgão banhado pela escuridão da dor.

Soube que estava procurando na chuva uma alegria tão grande que se tornasse aguda, e que a pusesse em contato com uma agudez que se parecia com a agudez da dor. Mais fora inútil a procura.

Ela e a chuva estavam ocupadas em fluir com violência .

Nem sequer agradecendo ao Deus ou a natureza. A chuva também não agradecia nada. Sem gratidão ou ingratidão, era uma mulher, era uma pessoa, era uma atenção, era um corpo habituado olhando a chuva grossa cair. Assim como a chuva não era grata por não ser dura como uma pedra: era uma chuva. Talvez fosse isso, porem exatamente isso: viva.

E de súbito, mas sem sobressalto, sentiu a vontade extrema de dar essa noite tão secreta a alguém. E esse alguém era ele. Seu coração começou a bater forte, e ela se sentiu pálida pois todo o sangue, sentiu, descera-lhe do rosto, tudo porque sentiu tão repentinamente o desejo dele e o seu próprio desejo.

Notava que estava abrindo as mãos e o coração mas que se podia fazer isso em perigo! Eu não estou perdendo nada! Estou enfim me dando e o que me acontece quando eu estou me dando é que eu recebo, recebo. Cuidado, há perigo do coração estar livre?

No entanto vinha uma segurança estranha também: vinha da certeza súbita de que sempre teria o que gastar e dar. Não havia pois mais avareza com seu vazio-pleno que era a sua alma, e gasta-lo em nome de um homem e de uma mulher.

E obrigava ela, uma menina, a arcar com o peso da responsabilidade de saber que os nossos prazer mais ingênuos e mais animais também morriam.

Eles pareciam saber que quando o amor era grande demais e quando um não podia viver sem o outro, esse amor não era mais aplicável: nem a pessoa amada tinha a capacidade de receber tanto.

Como é que você se dava com o sexo?
Era a única coisa, disse ela, em que eu dava certo.

E como não bastava, já que tinham esperado tanto tempo, quase em seguida eles se possuíram realmente, dessa vez com a alegria austera e silenciosa. Ela se sentiu perdendo todo o peso do corpo como uma figura de chagall.

Então ela, em voz baixa para não desperta-lo de todo, disse pela primeira vez na sua vida:
É porque te amo.

Escute você ainda vai me querer?

Nunca havia pensado que o que eu iria atingir era a santidade do corpo.

Embora sem vê-lo, reconheceu pela sua respiração pausada que ele dormia. Ficou de olhos abertos no escuro e cada vez mais escuro se revelava a ela como um denso prazer compacto, quase irreconhecível como prazer, se fosse comparado com o que tivera com ele.

Ela era antes uma mulher que procurava modo, uma forma. E agora tinha o que na verdade era tão mais perfeito: era a grande liberdade de não ter modos nem formas.
Não se enganava a si mesma: era possível que aqueles momentos perfeitos passassem? Deixando-a no meio de um caminho desconhecido? Mas ela poderia sempre reter nas mãos um pouco do que agora conhecia, e então seria mais fácil viver não vivendo, mal vivendo. Mesmo que nunca mais fosse sentir a grave e suave força de existir e amar, como agora, daí em diante ela já sabia pelo que esperar, esperar a vida inteira se necessário, e se necessário jamais ter de novo o que esperava.

Mas, para a sua alegria inesperada, percebeu que o amaria sempre. Depois que ele fora dela, ser humana parecia-lhe agora a mais acertada forma de ser um animal vivo. E através do grande amor por ele., ela entendeu enfim a espécie de beleza que tinha. Era uma beleza que nada e ninguém poderia alcançar para tomar, de tão lata, grande, funda e escura que era.

Meu amor, disse ela.
Sim?
(Tudo me parece um sonho. Mas não é, disse ele, a realidade é que é inacreditável.)

Ele estava perdido num mar de alegria e de ameaça de dor.

Mais ele queria a vida nova perigosa.

Não esquecendo os momentos baixos, pois que a natureza é cíclica, é ritmo, é como um coração pulsando. Existir é tão completamente fora do comum que se a consciência de existir demorasse mais de alguns segundos, nós enlouqueceríamos. A solução para esse absurdo que se chama “eu existo” , a solução é amar um outro ser que, este, nós compreendemos que exista.

Meu amor, você me seduziu diabolicamente. Sem tristeza nem arrependimento, eu sinto como se tivesse mordido a polpa do fruto que eu pensava ser proibido. Você me transformou na mulher que sou.

Mulher nunca é pornográfica. Eu não saberia ser, apesar de nunca ter estado tão intimamente com ninguém. Você entende?

Mas não gosto de falar tudo. Saiba também calar-se para não se perder em palavras.

O que eu queria saber é se sou a seus olhos, a infeliz heroína que se despe. Estou nua de corpo e alma, mas quero a escuridão que me agasalha e me cobre ...

Escrever sem estilo é o máximo que, quem escreve, chega a desejar.

Será o mundo com sua impersonalidade soberba vesus minha individualidade como pessoa mas seremos um só. Você terá que ficar sozinha muitas vezes.
- não me incomodo, sou hoje outra mulher. E um minuto de segurança de teu amor renderá comigo semanas.

Eu vou estar tão ocupado que talvez o jeito seja casarmos para estarmos juntos. – talvez seja melhor. Talvez o melhor seja –

Se você soubesse como é excitante eu te imitar.

Você acha que eu ofendo a minha estrutura social com a minha enorme liberdade?
- claro que sim, felizmente. Porque você acaba de sair da prisão como ser livre, e isso ninguém perdoa. O sexo e o amor não te são proibidos. Você enfim aprendeu a existir. E isso provoca o desencadeamento de muitas outras liberdades, que é um risco para a tua sociedade. Até a liberdade de se ser bom assusta os outros.

Ficaram em silencio tão prolongado que por um instante, no momento de maior escuridão que precede a aurora, ela não soube onde se achava.

Amor será dar de presente um ao outro a própria solidão? Pois é a coisa mais ultima que se pode dar de si.

Ela havia atingido o impossível de si mesma.